quinta-feira, 26 de setembro de 2013

disparates

I
serotonina
endorfina
dopamina
cocaína
ritalina
benzina
morfina
gasolina
heroína
...
tudo que eu precisava era do sorriso daquela menina

II
disparou o coração
fulminou aquela sensação
de que o mundo é sem chão
a desrazão tomou conta do sertão
- da minha mente - em vão
lembrei de Lilith e a boceta do perdão
sente? não!
por dentro só a serpente, da tal Eva de Adão

III
apreensivo o depressivo
vagueia sem sentido
por um mundo de obsessão
sua coleira e paixão
mas seus braços não

IV
Jesus morreu e nenhum filho deixou
nem obra, livro, em breu sua vida ficou
famoso porém depois
rendeu tanto falatório
que ressucitou pra ser ator

V
eu não sou obrigado a estar aqui
mas para onde posso fugir?
tudo que já foi será denovo tudo igual
novidade é o que está porvir
tirar as pragas, aguar o quintal
setembro é tempo de jaboticaba florir

terça-feira, 24 de setembro de 2013

...e tu quebrou meu violão
que situação!
ou será que fui eu que perdi a noção?
viajo em vão
feliz to não
no bolso nem cifrão
pra compensar locomoção

onde vou estar
quando o céu desabar?
num quarto de hotel,
ou em qualquer outro lugar
que faça sentido chamar de lar?

descrevo vias, ruas, marginais
de perto são todas iguais
de longe me banho pleno
na bosta de seus canais
não, meu nariz não quer mais
o cheiro das cidades normais

no fim até dei sorte de estar aqui
de não morrer, de não me ferir
mas indassim não vi
motivo nenhum pra sorrir

mas se até o pato e a vaca se dão bem
que me impediria
de saltar na rabeira do trem
rasgar mato, rio, montanha
ir além
no fim da linha ali, jávi
encontrar
ninguém...

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

avisa Manoel de Barros que eu cheguei
mandarei sinal de fumaça
espero que ele veja
e me receba em sua mansarda
trouxe uns passarinhos pra ele
na minha cabeça
soltos
nem sei se estão aqui ainda
tive de alimentá-los
fiquei quase sem idéias
cisquei no chão migalhas
e escrevi esse resto de poema
pra não esquecer
que no fundo do peito
ainda brotam arco-íris
dentro de cada tempestade

avisa ele que eu cheguei
sem projeto
sem prancheta
sem diploma de doutor
eu quero mesmo é ser ator
poeta ou cantor
da memória contar histórias
que não saem exatamente como entraram
do coração cavar uma flor
encantar aquela moça
que um dia prometeu
me mostrar o que é o amor

então Mané, meu vô, cá estou
levarei café preto
e bolo de milho quentinho com manteiga
e tu, professor
me ensina a pescar
e a viver do que se sonhar?

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

uma boa colher de esperança
para um mundo em mudança
dança

a valsa triste
o forró rasteiro
o samba ligeiro
o hiphop atento

mas dança
balança
a estrutura que te enlaça
embaraça
o fio que te conduz
o ventre livre
a cabeça ativa
o rabo solto 
a memória de outra vida
mas sempre a mesma

dança
despe tua couraça
no quadril empunha a lança
pra lutar por tua raça
abraça
a terra que te seduz

Jesus
não morreu por ser quadrado
mas sim por ter rebolado
pregado no alto da
cruz