domingo, 24 de junho de 2012

pangéia


Lembro bem de como a coisa toda começou: foi treta. Um teve nojo do cotonete amarelado que o outro jogava à vista de todos e ralhou com ele. Um que, como quase todos, fumava. E todos que fumavam, lá arremessavam suas bitucas usadas. O dono dos cotonetes descartados não fumava, e por troco, atacou os que dispensavam ali, além de baganas, restos de intimidades apodrecidas, pedaços de explosões raivosas e destroços de corações. Todos, por sua vez, sentiram sua dignidade ofendida pelas acusações mutuas. Chegaram a propor um duelo para por fim a contenda, cogitaram travar uma guerra de tabuleiro, depois pensaram até em beber pra esquecer. Mas por fim, acharam melhor limpar o metro quadrado de terra e proibir o cotonete, a bituca e a cueca. Nem sei se notaram assim de cara, mas depois da faxina de conveniência diplomática, estranhas formas de vida começaram a surgir e se multiplicar. Brotaram daquele chão um arbusto que floria em chaves de abrir portas de percepção, um pé de manjericão que levava ao castelo do gigante, um milhão de lagartas fumando narguilé e soprando nuvens de borboletas psicodélicas, três gerações de felinos egípcios e até um curioso dragão da era mesozoica que dava lições de alquimia a um aprendiz de feiticeiro. De um dia para o outro os seis quereleiros se viram unidos como os continentes quando eram um, e como eram a mesma coisa eles, os continentes e aquela bizarra floresta que saia debaixo de seus pés e caia-lhes sobre as cabeças. E como eram um só o mundo e as estrelas mais distantes, antes, muito antes de aquele lixão de um metro por um metro aparecer na encruzilhada de seus caminhos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Paródia sampaiófila de tempos extra-morais: À Dona Vadia de Lourdes

Os sacerdotes estão invadindo a pós-
-moderna-idade
em meio a gritos de vulvas e paus a tremer
os lábios hoje são livres mas cuidado com o choque
de ordem
enquanto as trevas se alastram eu volto a dormir
entre os sonhos
coloridos
de um ácido
como um astro
explodindo
na TV
eu me volto
às ribeiras
e às veredas
descobrindo
que um dia
morrerei
ecoando
toda marcha
dessa gente
porque sou
porque quis?
porque não sei
eu sou
eu fui
não sei