sábado, 24 de abril de 2010

ANTI - HISTÓRIA

I

A história é uma matéria, acreditem, extremamente conservadora. Conservadora! Sabiam? Todos reconhecem as contribuições dos pós-ismos. Mas calma lá - (o remédio da modernidade provoca surtos de auto-controle contemporâneos) usam tudo com moderação - não nos percamos por muito tempo no universo sem fim. Não se faz história sem rigor histórico! - Bradam os heróis da soberania disciplinar. E a maior reivindicação é essa: "somos uma disciplina!" Assim os bravos historiadores partem para a cruzada de disciplinar os praticantes da história; apresentam-lhes suas ferramentas exclusivas, seus métodos obrigatórios, suas normas, estilísticas suas regras de investigação, seus sistemas de segurança... em suma, suas verdades! Ah, terrível palavra, assustador paradoxo dos intelectos evoluídos... sim, verdades, sem as quais você não está autorizado a dizer que se acha um praticante da história.
"Cadê meu chão?", parecem reclamar esses beberrões de gorda produção intelectoyotista. Modernos adoradores da ordenologia das singularidades acontecimentais, têm medo do vazio. Mal sabem eles que não se vive sem o vazio, terreno das felicidades. Esquecer, esvaziar, dessignificar... mas isso seria o fim de tudo que os fia em posição de legitima identidade. Que medo de perder o osso departamental! À merda! Não percebem que foi a divisão quem falhou? Que as valas de segregação por eles cavadas e defendidas é que devem ser cobertas... para que as almas possam circular livremente pela pradaria lisa... e nos trombarmos, nos estranharmos, nos fudêrmos...
Trepar eternamente, com tudo, com todos, em tudo, por todos. O êxtase pleno depende do fim do apartheidt expressionista dos filhos do deus ratio. Seremos experiência laboratoria do nosso passado cognoscível até quando?

II

O maior pecado do historiador - aquele do qual ele foge com o mesmo assombro que um cristão foge de sua culpa, com a mesma obstinação que Édipo foge de seu destino - é precisamente o único que ele sempre cometerá, não uma, mas todas as vezes que ele se debruçar sobre a tentativa de olhar para trás do seu próprio e intangível presente. O nome de seu fantasma (e de sua culpa) é: anacronismo...

III

Disse o homem que habita as pradarias de cá ter descoberto que a grama crescia com o sol e com a chuva. Descobriu ele mais tarde exatamente quais substâncias que, estando presentes na terra onde crescia a grama, eram também vitais para o seu crescimento. Mas na casa desse homem, e depois de tantas descobertas, a grama se encontrava toda revolvida, e secas estavam cada uma de suas radículas. Até mesmo o sol e a chuva hoje encontram dificuldades em chegar perto do chão.
Antes do homem habitar tais pradarias de cá, nada se sabia sobre o crescimento da grama, nem sobre sua relação com o sol e a chuva e as abundâncias da terra jaziam na mais completa ignorância. Entratanto, sem nunca ninguém ter sabido o que era a grama, ou que ela existia por isso e por aquilo, ela existia, e nunca antes tinha deixado de crescer.

IV

Nas pradaria de lá haviam homens também, corria o boato de que lá a grama não morrera. Alegraram-se os da pradaria de cá ao saber da notícia. Atravessaram as três cordilheiras que os separavam para conhecê-los. Ao primeiro contato se frustraram absurdamente: os da pradaria de lá eram todos cegos, e pareciam não entender uma só palavra das que os de cá tagarelavam e ensinavam. Ninguém entendeu como e porque, aqueles bárbaros cultivavam um hábito absolutamente inútil: em todos os pôr-dos-sóis deitavam-se na grama e pareciam fingir que viam!

V

O que aconteceu então é sabido de todos. Os de cá entraram em guerra com os de lá porque aqueles nada sabiam sobre a grama na qual pisavam e nem estavam dispostos (ou aptos) a aprender. Como esses temiam que a grama se extinguisse por causa da ignorância daqueles, tomaram-lhes as pradarias e as vidas. Como a grama tivesse se amarelado após a contenda, nada restou aos homens da pradaria de cá senão contar a história do verde que lhes iluminara os olhos no passado. Desde então, e milênios adiante, todos os filhos dos filhos dos homens da pradaria de cá se dedicam a tentar reconstruir o verde anscestral em versos e prosas, mesmo assim, suas linhas nunca atingiram mais do que um fraco e debil amarelo.



sexta-feira, 9 de abril de 2010


Cigarro
ou cravo
texturas macias
de palavras vazias
a bruma da noite fria
o sol-sorrindo-ardia
nada mais vulgar:
o plantar dos pés no chão
o nadar no nada
um breve instante
em que o farfalhar dos galhos verdes
se confunde com a batalha do seu coração
subi no telhado
voltei alado
evanesco - de novo...
...sou passado

Considerações sobre o Capitalismo

I

Que coisa é essa que nos ameaça? Que nos enquadra? Que nos normatiza, que nos desarma, nos dilui, neutraliza, aprisiona, seca, mata!? Que lugar é esse onde nos enxergamos, que nos identifica, nos conecta? Que força é essa que nos atravessa sem que a vejamos; força superior a todos, etérea, inatacável? Maldita força dos números? Bendita razão eterna inblasfemável! Somos nós... homens. Homens-no-tempo. Homens-sem-tempo. Contemporâneos, éticos, verdadeiros. Donos do tempo e de tudo!... e sequer de nós mesmos.

II

Nosso mundo tá muito confuso, muito... Talvez nunca antes tenhamos estado tão confusos quanto hoje estamos. O que está acontecendo? É muita coisa, tanta coisa, tão rápida e fugidia coisa... Cadê o tempo? Mal se fala dele, o tempo já passou, já virou outro tempo, já nao tem tempo de ser o tempo. Ninguém sabe de tudo, ninguém sabe de nada... mas todo mundo corre. Corre com o tempo corre sem tempo, corre para além dele, em fios, em células, dnas, ar, vácuo... Sei lá, não sei... Tá tudo aí, em lugar nenhum!
Hobsbawm chamou nosso breve século XX de "era dos extremos". O que será então do nosso volátil século XXI? O que vem depois dos extremos? O que sucede o Pós-moderno? O que mais poderá nos assombrar? A instabilidade vaporosa de todas as coisas e relações? Ou a impassível estabilização de tudo, o esvaziamento de todos os corpos?

Axioma:

Capitalismo
É tudo culpa dele
Ele é todo nossa culpa