terça-feira, 13 de outubro de 2009
Morre Abraxas
Deus.... O universo começa!
Ele cria tudo e seus anjos. Do gueto comandado a rédeas de fogo pelo senhor absoluto, desprende-se um servo prodigioso. Quem poderia acumular tanto poder quanto o próprio Deus? Quem um dia se atreveria a desobedecê-lo? Ao anjo da rebeldia, ao primeiro espírito anti-tirânico da história da hisrória, foram atribuídas todas as características de sordidez e ruína. O seu reino marginal foi chamado de Inferno!
Mêdo e desespero fizeram você sentir de lá... tudo o que é feio, fedido e insuportável vem de lá! O reino da liberdade é o oposto do reino da paz. Se atreverá você a querer ter tanto quanto o teu senhor? Desobedecê-lo não seria o mesmo que desobedecer ao próprio Deus?!
Não se desobedece a quem detém todo o saber, e jamais se tira dele o conhecimento. Não é a toa que a primeira árvore plantada na terra pelo primeiro terrosista-poeta dos primórdios judaico-cristão (tataravós do capitalismo) fosse a raiz da rebeldia e da desordem por excelência. Seu fruto: a questão humana. A maçã cravada com o ponto de interrogação é o grande alvo dos empedernidos controladores desse período e dessa civilização (os nossos?).
Ai esta uma questão central para os estudos religiosos. Passamos séculos demais batendo cabeças sobre a existência ou não de Deus, ou se um deus pode ser melhor que o outro. Não se deve fazer a história das coisas sobre as quais se deve provar a existência, nessas acredita-se ou não, e acabou. Devemos fazer a história do que existe. O que existe nesse caso? Pessoas falando sobre Deus. Existe o discurso de Deus, esse discurso serve aos interesses de certas pessoas, oprime outras, exerce poder, exerce libertação, etc. Nesse discurso acredita-se ou não, por que? Como ele se transforma através da história (ou seja, através das ações e pensamentos dos homens e mulheres), quais forças o imprimem nos corpos e quais forças ele movimenta?
Deve haver a intenção em alguns que fazem ressonar o discurso-poder do bem (justiça, servilidade e passividade) contra o mal (caos, subversão e libertinagem) de impedir a (re)conciliação dos opostos complementares. Um esforço de ruptura do yin-yang. O yang prevalece sobre o yin e o homem-Deus sobre a mulher-Bruxa, e todos os que são homens-mulheres tem de se dividir e oprimir sua metade perversa para se adequar à lei da normalidade. Só apartir daí é que se atribuem os valores políticos transcedentais de bem e mal a cada uma das partes e da necessidade do primeiro sobrepujar o segundo.
A mulher comeu o fruto, ela foi a primeira a fazer a articulação insurrecta e perigosa com a natureza. É ela o primeiro demônia a ser domado, uma subjetividade selvagem a ser encarcerada dentro de seu corpo e junto com ele. Porque tudo nela é vil e nefasto. Homem toma cuidado com ela, ela esta sempre pronta a te ludibriar, pois ela conhece coisas que estão fora do seu encordeirado conhecimento racional. Ela domina os símbolos do mal, sente-os, compreende-os em uma dimensão da vida que você nunca será capaz de captar, e nem deve! Ela conversa a lingua dos animais, faz sexo com as plantas e faz poções com ervas epifânicas e afrodisíacas ilegais. Dizem por ai que ela tem estreito contato com o próprio Lúcifer, que é, ele mesmo, uma mulher! Por isso usa a única coisa que tem a mais que ela... tua força homem, esmaga ela com tua força! Tudo receberá em troca de manter a ordem e a justiça, mas somente conseguirá isso tomando a mulher como tua escrava. Dela só arrancará suas crias, seus frutos, sua casa limpa e seu gozo fácil... Foi Deus quem disse, não fui eu.
...Retornar ao caminho do equilíbrio, destruir o bem e o mal, reconciliar o yin-yang. Engravidar-se do espírito de Abraxas...
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